Por Paulo Santos da Silva¹

As Lendas e a Infância

Quando as lendas entraram em minha vida, eu era ainda menino. Morava com meus pais em um pequeno sítio do interior da região oeste paranaense, em Assis Chateaubriand, e me deparava sempre com um universo de várias histórias que me embalavam, principalmente, nas noites de maio e junho, meses de fogueiras e rezas a Nossa Senhora.

À beira dessas fogueiras, no cair do dia, a boca da noite se achegava a nós com causos regados a bolos de puba, paçoquinha, batata doce assada e outras guloseimas à base de milho. As lendas estavam ali entre nós, acesas; como as brasas e seus estalos, rompiam com o silêncio e pintavam para nós crianças e adultos imagens de Lobisomens, Mula-Sem-Cabeça, Saci-Pererê, Mãe d’Água, Boitatá, histórias de criança achada morta sem sangue algum no corpo, isto é, o corpo seco, e até de uma mulher muito má que morreu e foi rejeitada por Deus e pelo Diabo, tendo que regressar ao lugar onde morava, e ainda de noivas abandonadas no altar ou de visões sobrenaturais de seres que vagavam na atmosfera noturna, entre tantas outras. Mas estas histórias não ficavam aí, elas apareciam na escola onde eu estudava as primeiras séries, ora através das professoras, ora pelas bocas dos alunos, ora nos livros... Elas aguçavam a nossa vontade de ouvir mais, de querer mais, de saber mais sobre nós e os seres imagináveis que populacionavam as nossas mentes. E que delícia era ouvi-las. Uma professora magrinha e bem pequena era a minha preferida para as lendas. Ela não apenas contava uma lenda; ela teatralizava na voz e nos gestos. Diante disso, eu ia me encantando pela história e imaginava ler igual a leitura que ela nos fazia. Ia gostando, aprendendo e passando a usar essa literatura em minha escalada educacional.

¹ Paulo Santos da Silva é Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade, professor do Curso de Pedagogia, disciplina de Oficina de Literatura Infanto Juvenil.

 

Prof. Jonas Maciel
DRT 0010332/PR

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