Veja como foi a III Mostra de Direitos Humanos da Faculdade ISEPE
Nesta semana, a Faculdade ISEPE foi o núcleo de importantes reflexões sobre as intrincadas dinâmicas que vivemos enquanto sociedade. Nos dias 28, 29 e 30 de setembro, a Instituição, por meio da Coordenação do curso de Direito, promoveu a III Mostra de Direitos Humanos. O evento integra o projeto institucional da faculdade e tem como objetivo abordar temáticas pertinentes à reflexão sobre a atuação dos direitos humanos em diferentes contextos em que essas garantias precisam ser protegidas e reivindicadas.
Com a expressão “Direito a ter direitos”, cunhada pela filósofa alemã Hannah Arendt, sendo um fio condutor pelas três noites de palestras virtuais, a comunidade acadêmica e comunidade externa tiveram a oportunidade de contribuir com a construção de ricos diálogos, ao lado das convidadas, que trouxeram conhecimento e clareza para seus objetos de análise.
Luiz Michaliszyn, diretor da Instituição, abriu o evento enfatizando a importância para a sociedade, como um todo. A convidada para a primeira noite, Aline Soares Lopes, mestre em Direitos Humanos e Políticas Públicas pela PUCPR, e atualmente doutoranda em Ciências Sociais Aplicadas na UEPG, apresentou a complexidade da relação dos direitos humanos e de diferentes atuações políticas e nacionais, amparada pelo pensamento de importantes pensadores da história mundial, em especial, Hannah Arendt, tema central de sua palestra “O ‘Direito a ter Direitos’ e a cidadania de Hannah Arendt”.
Ela faz uma “genealogia dos direitos humanos” e elenca algumas conquistas obtidas ao longo desse processo de desenvolvimento, como casamento civil para casais homoafetivos e direito de voto para mulheres. “Os direitos humanos já não são mais tão desprezados assim. Não são balela”, reflete. Respondendo a perguntas complexas, Lopes continuou a apresentar a profundidade das dimensões que integram as relações humanas em meio a temas como cidadania, nacionalidade, política e sustentabilidade.
Abordando a liberdade religiosa a partir de uma perspectiva histórica e pessoal, Juliana Akel, a Mãe Juba, movimentou segunda noite da Mostra. Com a proposta de desmistificar a Umbanda — religião na qual atua há treze anos —, a palestrante demonstrou as complexas estruturas sociais que se desenvolvem a partir das diferentes religiões que se instalaram em nosso país.
Em um ótica social, Juba atenta para a intrincada relação existente entre o racismo e a discriminação religiosa. A partir de dados estatísticos, a palestrante questiona se ações discriminatórias têm como única motivação, o número de fiéis. “Não é uma questão de ser diferente, de ser uma religião minoritária.”
Como forma de tornar o tema mais palpável, ela relata situações em que viveu preconceitos por conta de sua religião. “A partir do momento em que nos entendemos a partir de nossas especificidades, a gente não pode, não deve e não tem como ser intolerantes”, afirma. A professora Letícia Lopes Jahn, mediadora do evento, aponta para a liberdade religiosa como um importante aspecto para avaliarmos a potência de nossa cidadania: “A liberdade religiosa nada mais é do que a prática da cidadania. É uma expressão máxima da cidadania de um ser humano”. “Como disse a Hannah [Arendt], temos direito a ter direitos”, observa Juba.
Assim como nas outras noites de evento, a palestra “Uma perspectiva decolonial sobre os direitos humanos das mulheres” deixou o chat da transmissão ao vivo animado. “Quase um fórum paralelo”, brincou o coordenador do curso de Direito Luciano Raiter. Para falar sobre o tema, o evento recebeu Ana Carolina Eliane dos Santos Guedes, doutoranda em Ciência Jurídica, pela Univali, em Itajaí, e atua como advogada e professora de Direito Penal, na FAE/Pr.
Em sua fala, Guedes levantou importantes questionamentos acerca da abrangência e êxito dos direitos humanos em assistir todas as mulheres. “Eu me sinto incluída?”, indaga. A partir desta primeira questão, o feminismo decolonial — objeto de estudo de Guedes — é apresentado ao público.
Resgatando o histórico de lutas feministas em busca de direitos, observa-se que há um certo descompasso entre suas primeiras manifestações, eurocêntricas, e a universalidade dos direitos humanos. Essa relação transparece uma representatividade insuficiente e incapaz de validar a realidade de mulheres negras, indígenas e transgêneros, por exemplo. “Não existe uma mulher única. O feminismo decolonial surge justamente para contestar essa ideia monolítica de mulher”, explica Guedes.
Ao fim da III Mostra de Direitos Humanos, muitos diálogos foram propostos, dúvidas elucidadas e panoramas compartilhados, demonstram a importância dos direitos humanos para a garantia de uma existência digna a todo indivíduo. Conscientizando e agregando conhecimento a toda comunidade, comentários no chat, ao longo das três noites, não deixam dúvidas a respeito da relevância do evento para o crescimento individual mas também comunitário daqueles que compartilharam desses momentos. Resultado disso é a marca recorde de acessos em eventos online realizados pela Instituição ao longo do ano.
“Estão de parabéns. As participações foram ótimas, muita gente perguntando, muita gente comentando, interessante que fomentando conversas entre eles [acadêmicos]. Então, a gente percebe que acertamos. Quando percebemos que estamos fazendo com que as pessoas que estão assistindo, compartilhando, que estão aproveitando, também estão pensando. Este é o intuito da Instituição”, parabeniza Raiter. “Estamos dialogando para transformar. A gente precisa de operadores do Direito melhores, pessoas melhores, pessoas mais humanas. Precisamos mais desse amor”, completa Jahn.